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Resenha: OLIVEIRA, Marta K. de.Vygotsky:Aprendizado e desenvolvimento.Um processo sócio-histórico.

RESENHA
OLIVEIRA, Marta K. de.Vygotsky:Aprendizado e desenvolvimento.Um processo sócio-histórico.São Paulo: Spione,s/d.
Resenhado por Jordana Romero Silva Motta ( Pós-graduanda do IFSP )
Esta obra, num total de cinco capítulos, tem por objetivo sintetizar as ideias de Liv Vygotsky sem reduzi-las e sim mostrá-las de forma exata e bem acessível ao público alvo - estudantes e interessados na área da Educação, que buscam interagir com crianças e adolescentes.
Em seu prefácio – por Jean Valsiner ( Chapel Hill, North Carolina – Outubro de 1991 )  -  coloca a importância da obra neste momento sócio-histórico onde estudiosos vêm tomando conhecimento e se interessando pelas ideias vygotskianas, demonstra a importância de estudiosos de outros países, além dos americanos desenvolverem análises a partir das obras originais e que essa análise em português é um passo significativo  para a divulgação das ideias de Vygotsky e seus colaboradores. Demonstra como a autora expõe as ideias vygotskianas e explana sobre as razões de interesse hoje por essas concepções, expõe cronológicamente a vida e obra de Vygotsky conceituando histórica e socialmente.
Na introdução, a autora expõe a diferença social, política e científica da época de Vygotsky, com a atual; fala sobre a dificuldade do acesso às obras dele devido ao isolamento da União Soviética e à censura e a expansão das mesmas no mundo, direciona a discussão para o confronto entre as ideias de Vygotsky e Piaget nas áreas de Educação e da Psicologia que serão explanadas na obra.
No primeiro capítulo, a autora disserta sobre a história de vida de Vygotsky conceituando-a com o movimento histórico ao decorrer de sua trajetória, dá grande importância à influência do ambiente familiar como estimulante intelectual.
Demonstra sua trajetória de estudos, sua diversidade e sua intensa vida intelectual com a vastidão de sua produção em tão pouco tempo de vida.
Destaca que não há uma “ teoria vigotskiana” , sua ideias se multiplicaram  com seus colaboradores sendo os mais conhecidos Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikohievich Leontiev, deixa claro que buscavam uma “ nova psicologia”-  na época da Rússia pós-Revolução – a qual sintetiza a psicologia como ciência natural e a psicologia como ciência mental, duas fortes tendências presentes na psicologia do início do século.
Descreve que síntese, para Vygotsky, seria o surgimento de algo novo que anteriormente não existia,  os pilares básicos do pensamento de Vygotsky em três ideias centrais, destaca a importância do cérebro como órgão material que define limites e possibilidades para o desenvolvimento do homem, destacando a ligação como segundo pressuposto do trabalho de Vygotsky.
No segundo capítulo, destaca esse terceiro pressuposto com a mediação simbólica, coloca como principal interesse de Vygotsky o estudo de funções psicológicas superiores, também chamado de processos mentais superiores, em conhecer e compreender os mecanismos psicológicos mais sofisticados, diferencia a atividade psicológica superior das ações reflexas, das reações automatizadas e dos processos de associação simples entre inventos, através de exemplos e introduz  como conceito central para o entendimento das concepções vigotskiana sobre o funcionamento psicológico a mediação, explicando e exemplificando seu funcionamento ao substituir o processo simples estímulo-resposta por um complexo mediado.
Ressalta que o homem possui uma relação mediadora com o mundo, e desta relação distingue dois tipos de mediadores que são tratados no livro separadamente por terem características bem diferentes, primeiro é mostrada a importância do uso dos instrumentos com a ligação as ideias marxista de Vygotsky ; o homem é um ser histórico; a sociedade humana está em constante transformações e a síntese dialética que é usada ao longo de toda sua obra.
Na relação, indivíduo e mundo, coloca o instrumento como objeto social mediador e exemplifica seu uso diferenciando; o uso feito pelo ser  humano do uso feito pelo animal que não desenvolve sua relação com o meio num processo histórico-cultural como o homem, a autora destaca porém que posterior Vigotsky foram feitos estudos que demonstram um uso mais sofisticado de instrumento entre primatas superiores do que o uso suposto em sua comparação.
Diferencia signos de instrumentos, especifica seu uso como instrumentos da atividade psicológica e diferencia também ações concretas de processos psicológicos.
Dá exemplos sobre o uso dos signos e expõe uma experiências; de Vygotsky e seus colaboradores para verificar a relação entre a percepção e a ação motora, para mostrar que o uso de mediadores aumenta a capacidade de atenção e de memória e para finalizar o capítulo, a autora discorre sobre o processo de internalização e a utilização de sistemas simbólicos, expondo o processo de representação mental, a importância dos signos no aprimoramento da interação social, e  o papel fundamental na comunicação que os sistemas simbólicos e a linguagem exercem.
No terceiro capítulo, trata da linguagem e suas relações com o pensamento do homem e da espécie humana, falando de suas funções; ao tratar  da fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento, explana sobre a “ inteligência prática” dando exemplo tornando assim de fácil entendimento e coloca a palavra ocupando um lugar central entre pensamento e linguagem, dando exemplos de transformações de palavras para exemplificar que a língua é viva e sofre transformações, explica as transformações da linguagem sofridas pela criança, sobre as intervenções do educador  e diferencia conhecimento consolidado pela cultura do conhecimento escolar.
Diferencia o discurso interior e fala egocêntrica explicando o processo de transformação da fala na criança e a autora coloca que esse é o ponto mais visível entre as diferenças de Piaget e Vygotsky colocando uma síntese dessa divergência de maneira bem acessível e de fácil compreensão e deixa claro que o desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento são questões centrais na obra de Vygotsky.
No quarto capítulo, há uma preocupação da autora em ressaltar que a preocupação de Vygotsky com  o desenvolvimento humano está presente em toda a obra através da abordagem genética.
Diferencia as concepções de Vygotsky das de Jean Piaget e das de Henri Wallon e enfatiza a importância dos processos de aprendizagem, da interação social, da zona de desenvolvimento proximal - direciona essa discussão ao campo educacional voltando a falar da intervenção do professor de maneira direcionada ao desenvolvimento da aprendizagem - , destaca também; a importância da imitação, da observação para o desenvolvimento da zona proximal; fala da importância do brinquedo no desenvolvimento infantil e especifica a brincadeira do faz de conta como primordial para a criança que toma como modelo real seu significado, através de regras que devem ser seguidas.
A autora, ao falar da evolução da escrita, enfatiza que as ideias de Vyotsky são contemporâneas, faz relação com Emília Ferrero, cita livros e artigos sobre o assunto, demonstra os passos na pesquisa de Luria com imagens de representações gráficas da dissertação de mestrado de Maria da Graça Azenha Bautzer Santos.
Articula de maneira breve, percepção, atenção e memória com os pressupostos básicos da abordagem vygotskiana discutidos nos capítulos anteriores através de exemplos e explicações sucintas e claras.
No quinto e último capítulo, a autora já destaca resumidamente três aspectos fundamentais que foram desenvolvidos nesta obra , são eles; o funcionamento cerebral como suporte biológico de funcionamento psicológico, tendo Luria como um dos mais importantes neuropsicólogos de todo o mundo; a influência da cultura no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos; e a atividade do homem no mundo, inserida num sistema de relações sociais, como o principal foco de interesse dos estudos em psicologia.
A autora disserta sobre o funcionamento do cérebro, sobre a concepção de Luria a respeito da abordagem da organização cerebral como sendo baseada em sistemas funcionais que se estabelecem na história do homem; demonstra de forma detalhada e com vários exemplos, como Luria desenvolveu sua pesquisa na Ásia Central, que tinha por objetivo estudar as diferenças culturais de como os processos psicológicos superiores são construídos em diferentes contextos culturais.
Termina o capítulo falando sobre Leontieve, sua obra, e sua teoria da atividade, explicando e exemplificando-a com palavras do próprio Leontieve.
Na conclusão da obra, utiliza uma fala de Vygotsky sobre as concepções e  deixa claro que Vygotsky não formula uma teoria bem estruturada , mas organiza e instiga reflexão, destaca a problemática da relação entre propostas teóricas e prática pedagógica na Educação, a qual a autora faz uma crítica por no Brasil ter-se preferência por utilizar uma única referência uma só teoria e desprezar outras, resume as principais ideias de Vygotsky de forma clara e sempre relacionando com a educação escolar, frisa a importância da intervenção do professor na fase escolar, propondo tomar como ponto de partida suas ideias para uma reflexão e melhor entendimento delas.
É importante ressaltar que a autora consegue passar as concepções vygotskianas com uma linguagem acessível e fácil sem que haja prejuízo das mesmas, utiliza-se de falas do próprio Vygotsky nos momentos oportunos sem que haja confusão para quem esteja lendo de quem é a explicação, é uma obra com vários exemplo que são retomados nos capítulos posteriores facilitando assim a articulação das ideias e a relação entre elas, mostrando que estão interligadas, demonstra claramente a contemporaneidade das concepções Vygotskianas fazendo relação com a atividade escolar pontuando a importância de aprofundamento nos estudos para auxiliar a melhoria na aprendizagem dos educandos por parte do professor.